A história da Garagem de Bondes de Curitiba

por João Cândido Martins — publicado 05/04/2013 09h25, última modificação 04/09/2020 14h39
A história da Garagem de Bondes de Curitiba

A antiga garagem de bondes ainda preserva a estrutura metálica montada há 100 anos (Foto: Anderson Tozato)

Pouco lembrada pela população de Curitiba, a antiga garagem de bondes situada no cruzamento das ruas Barão do Rio Branco e Visconde de Guarapuava já foi uma referência quando a região do entorno da Praça Eufrásio Correia era uma das principais vias da cidade, um trajeto obrigatório para quem desembarcava na estação ferroviária.

Tração animal (1887)
A garagem começou a funcionar em 8 de novembro de 1887, data da inauguração das primeiras linhas que eram administradas pela empresa Ferrocarryl Curitybana, de propriedade do senhor Boaventura Fernando Clapp. A atividade era exercida mediante contrato entre Clapp e a Câmara Municipal. O espaço da garagem se resumia a um galpão de madeira no formato chalé, que servia de depósito e estrebaria, entre outras funções.

O primeiro dia de funcionamento das linhas de bonde foi noticiado com destaque pelo jornal A Gazeta Paranaense e transcrito de forma resumida por Heitor Borges de Macedo, em seu livro Rememorando Curitiba. “Pouco depois das onze horas, partiram da estação central da empresa quatro vagões (wagons) de passageiros, um ocupado pela excelente banda do 2º Corpo de Cavalaria. Dirigiram-se os bondes para o Boulevard 2 de julho (João Gualberto), onde reside o operoso industrial Comendador Francisco Fontana, que preparou condigna recepção”, publicou o jornal.

A regularização de um serviço de bondes representava (ao lado de outras novidades como o Passeio Público, o saneamento e a iluminação pública) um avanço, uma mudança do universo eminentemente rural que predominara até então para um ambiente com aspirações cosmopolitas.
 
Em 27 de agosto de 1895, o empresário Santiago Colle passou a ser o dono da empresa, que ele próprio descreveu num relatório de 20 de fevereiro de 1906: “a estação e suas dependências ocupam uma área de seis mi metros quadrados. O material rodante é representado por 20 viaturas abertas para passageiros, quinze vagões descobertos para cargas, dois vagões fechados para transporte de mala postal e diversos carros abertos para ferragens. Para a tração desses veículos, possui a empresa, 150 mulas”, registrou Santiago Colle.
 
Para o pesquisador Marcelo Sutil, a garagem possuía importância estratégica:  “Quando foi inaugurada, a Praça Eufrásio Correia ainda era um descampado e um matagal cobria parte da futura Rua da Liberdade. No entanto, os bondes ali localizados, juntamente com a ferrovia, tinham naquele espaço um ponto crucial para a dispersão de linhas. De lá partiam ramais que direcionavam o crescimento (da cidade)”, esclarece Sutil.
 
Santiago Colle se afastou da empresa em 1910, cedendo espaço à firma inglesa South Brazilian Railways Ltd., que assumiu o controle sobre os equipamentos, veículos, animais de tração e instalações. Dois anos depois, essa empresa montou a estrutura metálica que até hoje sustenta a cobertura da antiga garagem de bondes. Seria precipitado supor o peso das vigas de ferro fundido que se conectam a dez metros de altura, mas o fato é que essa descomunal armação metálica completou 100 anos e, aparentemente, reúne condições para permanecer intacta por muito mais tempo.
 
Bondes elétricos
Em 1913, Curitiba adotou os bondes elétricos, o que não significou o imediato abandono dos bondes movidos à tração animal. Os dois modelos conviveram durante um breve período, mas não tardou para que todas as linhas se eletrificassem.

Com a extinção da South Brazilian Raiways em 1928, os bondes e toda a administração desse meio de transporte coletivo foram transferidos para a Companhia Força e Luz do Paraná que deu continuidade aos serviços. Em 1952,os bondes já não eram mais compatíveis com o fluxo do trânsito, o que fez com que o prefeito Ney Braga os excluísse em benefício dos ônibus que se mostravam mais práticos e econômicos.
 
A antiga garagem se tornou propriedade da família Slaviero, que manteve no local uma concessionária de veículos por alguns anos. Atualmente o espaço é utilizado por vários setores técnico-administrativos da Câmara Municipal. Embora sua aparência tenha sido alterada e sua função seja outra, o lugar continua evocando um tempo remoto em que a cidade ainda era uma promessa.

Por João Cândido Martins

Referências Bibliográficas

Rememorando Curitiba (Heitor Borges de Macedo, 1983)
Beirais e Platibandas (Marcelo Sutil, 1993)
O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (Aparecida Vaz da Silva Bahls, 1998)
Rua da Liberdade (Barão do Rio branco) – Boletim da Casa Romário Martins (1981)