No Dia da Escola, as polêmicas matemáticas do professor Maeder

por João Cândido Martins — publicado 15/03/2013 10h00, última modificação 04/09/2020 14h42
No Dia da Escola, as polêmicas matemáticas do professor Maeder

Busto na Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) homenageia o ex-reitor. (Foto - Anderson Tozato)

Neste dia 15 de março (2013), dia da Escola, o espaço de pesquisa histórica da Comunicação da Câmara tem como homenageado o professor Algacyr Munhoz Maeder, nome de destaque no desenvolvimento da didática aplicada ao ensino da matemática no Brasil.

O engenheiro curitibano Algacyr Munhoz Maeder destacou-se pela produção de livros didáticos voltados ao ensino da matemática entre os anos de 1928 e 1962. Nascido em 22 de abril de 1903, Maeder foi objeto de homenagem pela Câmara Municipal quando, em 8 de abril de 1976, o então vereador Adhail Sprenger Passos apresentou proposição legislativa que sugeria o nome do professor para uma das ruas de Curitiba. Seu nome originalmente era grafado com o sinal de trema sobre a letra “a”, mas posteriormente ele adotou a escrita “Maeder”.

Nas primeiras décadas do século XX, a maior parte dos professores de matemática era composta por engenheiros, e o professor Maeder não constituía exceção. O ensino se dava com a utilização de antigos tratados e compêndios que foram substituídos pelos chamados “livros didáticos”, e Maeder foi uma peça fundamental nessa transição. Fazia-se necessário popularizar o ensino da matemática, portanto os textos explicativos e os exemplos mencionados deveriam atender a princípios elementares de didática. No início da década de 1930, o ensino no Brasil passou por uma transformação coordenada pelo ministro da educação Francisco Campos.

Foi quando o decreto 1.890, de 18 de abril de 1931, criou o ambiente para o surgimento de diversas coleções didáticas que deveriam atender à nova subdivisão dos temas matemáticos em aritmética, álgebra e geometria. Muitos autores se destacaram nesse período, entre eles, Euclides Roxo, Cecil Thyré, Agrícola Bethlem, Ary Quintella, Jacomo Stávale e Júlio César de Melo Souza (que posteriormente assumiria o pseudônimo de Malba Tahan para divulgar curiosidades matemáticas).

Os primeiros livros didáticos de Maeder tiveram muita receptividade entre docentes e estudantes, mas a competição pela liderança do então emergente mercado de livros didáticos ocasionou uma série de polêmicas públicas que tiveram origem na Revista Brasileira de Matemática e foram encabeçadas pelos matemáticos Salomão Serebrenick e Júlio César de Melo e Souza. Eram questionados os métodos e as terminologias utilizadas por Maeder e outros autores, sendo que as críticas chegavam a colocações de ordem pessoal. As refutações de Maeder publicadas pelo jornal Gazeta do Povo seguem o mesmo tom.

Se as argumentações não se orientaram pela gentileza, serviram de base para o procedimento de análise dos livros didáticos que é exercido atualmente por órgãos administrativos competentes. As polêmicas ensejaram uma profícua discussão sobre o ensino no Brasil e até o projeto gráfico dessas publicações foi colocado em pauta.

Para Adilson Longen, autor de uma pesquisa sobre a produção didática do professor Maeder, as polêmicas foram positivas na medida em que apresentaram à opinião pública discussões que, de outra maneira, permaneceriam encerradas nos corredores acadêmicos. Os dezenove livros didáticos publicados por Maeder procuram se orientar pelas diretrizes determinadas pelo poder público. A análise da produção ao longo dos anos mostra que certas abordagens mudaram com o passar do tempo e um dos exemplos citados é a maneira como o chamado Teorema de Pitágoras foi explicado nos anos 30 e como ele foi apresentado três décadas depois. 

Prefeito
Maeder conquistou o respeito da população e sua atuação como professor no Gymnasium Paranaense (depois conhecido como Colégio Estadual) consolidou sua posição na sociedade curitibana. Tanto que, em 1945, Maeder assumiu a prefeitura de Curitiba por um breve período, o suficiente para estimular o ensino público, conforme seria de se esperar de um professor. A gestão de Maeder foi marcada pela constatação de que o plano urbanístico elaborado pelo francês Agache não seria de todo aplicável, mas considerando as limitações naturais de uma gestão exercida em plena transição de um regime de força para um cenário mais democrático, os resultados foram positivos

Entre os anos de 1971 e 1973, Maeder esteve à frente da Reitoria da Universidade Federal do Paraná, encerrando com dignidade uma carreira de muitas décadas dedicadas ao ensino. Em virtude das suas muitas contribuições ao ensino da matemática, entendeu a Câmara Municipal que o professor Maeder deveria ser reverenciado pelas gerações futuras, daí a escolha de seu nome para a nomeação de uma importante via no bairro do Novo Mundo.

Referências:

Arquivo Aramis Millarch

Livros didáticos de Algacyr Munhoz Maeder sob um olhar da educação matemática (pesquisa por Adilson Longen)

Educação matemática: a história da disciplina e as contribuições da produção escolar como fonte para sua compreensão (Iara da Silva França)

Quem somos nós, professores de matemática? (Wagner Rodrigues valente)