Vereadores debatem flexibilização do comércio e uso de cloroquina

por Filipi Oliveira — publicado 28/05/2020 16h49, última modificação 28/05/2020 16h49 Reprodução do texto autorizada mediante citação da Câmara Municipal de Curitiba.
Vereadores debatem flexibilização do comércio e uso de cloroquina

Sete vereadores debateram os impactos da covid-19 em Curitiba. (Foto: Carlos Costa/CMC)

A flexibilização do comércio com restrições de funcionamento e o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19 foram os assuntos comentados por sete vereadores durante a sessão plenária virtual desta quarta-feira (27) da Câmara Municipal de Curitiba (CMC). Eles utilizaram o espaço do pequeno expediente e instantes antes da audiência pública de prestação de contas da Câmara de Curitiba e da Secretaria Municipal de Finanças.

A vereadora Julieta Reis (DEM) abriu o debate anunciando o retorno das feiras livres de bairro ao ar livre. “O prefeito conseguiu entender nossas preocupações e resolveu então liberar as feiras de artesanato de bairro, junto com as do Abastecimento, todos obedecendo as questões de afastamento, todas as questões de segurança necessárias, mas que os pequenos comerciantes possam vender luvas, gorros, máscaras de pano”, disse.

Para ela, os pequenos empreendedores e os trabalhadores de artesanato tiveram problemas porque “dependem exclusivamente da renda para poder sobreviver”. Julieta Reis contou ainda que aguarda a liberação do funcionamento da Feira do Artesanato do Largo da Ordem. “A Secretaria de Turismo estuda formas de retomar o funcionamento atendendo as necessidades dos empreendedores e ao mesmo tempo atendendo as instruções da Secretaria Municipal da Saúde. É importante a saúde, é importante a sobrevivência e é importante que os pequenos empreendedores continuem trabalhando”, apontou.

O vereador Dalton Borba (PDT) demonstrou preocupação com o que chamou de “medidas de afrouxamento do isolamento social”, justificando que “a nossa curva de contágio no Brasil está em ascensão”. Para ele, “o número de contaminados no Brasil vem subindo numa escala absolutamente assustadora: mais de mil mortos por dia” e a “flexibilização sem medidas austeras e rigorosas de fiscalização” pode provocar uma curva de contágio do novo coronavírus “fora de controle”.

Borba ponderou que “Curitiba, por enquanto, tem sido uma capital exemplo. Temos tido aqui uma situação bastante tranquila, graças a Deus. Mas não podemos afrouxar”. Ele ainda perguntou se “a Prefeitura está conseguindo fazer uma fiscalização efetiva, com controle principalmente de uso de máscaras, equipamentos de higienização das mãos e controle de pessoas” e sugeriu que sejam abertas, no município, linhas de “créditos ou microcréditos para os empreendedores para que possam dar sequência no seu negócio, pagando a folha de pagamento e fornecedores e conseguindo ar para respirar”.

Cloroquina
O uso da cloroquina também foi abordado durante a sessão desta quarta-feira. Ezequias Barros (PMB) foi o primeiro a mencionar o tema, cintando uma reportagem de TV que mostrou a adoção pela Prefeitura de Porto Feliz (SP) do uso da cloroquina para tratamento de pacientes com a covid-19. “O prefeito é médico e a secretária de saúde é médica. [A cidade registrou] dois casos de morte, mas a reportagem diz que se não tivesse sido feito esse tratamento no início [da pandemia] poderia ter mais de 200 casos graves na cidade”, disse.

Barros disse que não é médico e que procura “na internet o que está dando certo lá fora e aqui dentro. E a gente tem visto que onde se usa [a cloroquina] se diminui bastante [o número de casos]” e ponderou que existem “questões das consequências do medicamento”, citando como exemplo o uso da cloroquina em Manaus (AM) para combate à malária “que ajuda muito fortemente a não ter mortes”. Barros pontuou que “todos os medicamentos têm suas consequências, têm seus efeitos colaterais, mas precisamos pensar em como salvar vidas e creio que a cloroquina pode ser um dos caminhos”.

Maria Leticia (PV) pediu a palavra para classificar como “leviandade” a sugestão do uso do medicamento e afirmou que os vereadores “não têm legitimidade alguma para falar de medicamentos” e que “estão desafiando e desrespeitando a ciência quando se manifestam dessa forma”. Professora Josete (PT) pontuou que estudos mostram que “a cloroquina traz muito mais efeitos colaterais que benefícios no caso da covid-19”, ponderou que há “emprego para muitas outras doenças, mas muito bem controladas, como a malária e algumas doenças autoimunes” e defendeu que “para a covid-19 a cloroquina é um grave risco à vida das pessoas”. Presidindo a sessão, Tito Zeglin (PDT) informou que o presidente da França “acabou bloqueando esse produto na França, um país de primeiro mundo”.

Ezequias Barros repetiu que não é médico, frisou que não “disse que a cloroquina é a solução”, afirmou que “a vereadora Maria Letícia parece que gosta de colocar a gente como se não tivesse valor na sociedade”, revelou que já passou “por malária, dengue, paralisia infantil, estou vivo e dou palpite” e complementou: “não sou leviano porque eu disse o que está acontecendo em uma cidade e está acontecendo em muitas outras. E infelizmente alguns não querem ver”. Osias Moraes (Republicanos) também rebateu as vereadoras dizendo que “não é achismo”, citando reportagem da Gazeta do Povo com opinião do médico cardiologista Costantino Costantini, lembrou que “há 70 anos usamos a cloroquina no país” e finalizou: “acreditamos na ciência, sim. Mas existem contradições”.